Seguidores

Regalo divino (Dantas de Sousa) - crônica

Cachorro Tiago. Animal querido, caro, amado. A gradação ascendente me traz segredo sagrado, ressignificado em: aproximação, convivência, intimidade. Na foto, eu e Tiago estamos no estágio da intimidade. Após o almoço, Tiago costuma a ir me esperar na cama. Deitamos, e há rodízio de lugar. Ele que escolhe o modo de se deitar na cama. Isso é que se dá o nome de sesta - repouso, por exemplo, após o almoço. Deixa-me alisá-lo para chegar ao sono. Fecho os olhos, até Tiago dormir. Penso em Tiago, como se deu a nossa aproximação.
Antes de revê-la, relembro-me do vídeo suíço: ETs sequestravam cachorro, colocavam-no um chipe (pequeno componente eletrônico miniaturizado) dentro dele e lhe conduzia a uma casa, a uma família. Debochei a postagem, não dei crédito ao assunto.
Numa quinta-feira de Semana Santa, acordamos eu e Malu com alguém batendo forte ao portão de casa. Ouvíamos a voz de Maria, e a chuva forte às cinco da manhã. Insistia a idosa para assistirmos um cachorro amarrado na árvore. Por estarmos tristes devido à morte da cachorra Mirela (nossa inesquecível Mirelinha, preta linda!), porém resolvemos atender Maria.   
Amarrado as quatro pernas, a cabeça também, só couro e ossos, e sobre elas andavam mais carrapatos do que pulgas. Um líquido (segundo Maria, um medicamento para curar) foi espalhado na parte traseira e pelas pernas dele.
Maria desamarrou o cachorro, pôs nos seus braços e levou-o para sua casa, em frente da nossa casa. E enquanto estávamos na cozinha, em refeição da manhã, ouvimos Maria a nos chamar.
Ela trazia nos braços o macérrimo cachorrinho, limpo, lavado, purificado em aroma de sabão de pedra. Diante de mim, ele quase abrindo o olho esquerdo me comunicou um segredo secreto. Enternecido e entremeado de alucinação canina, decidi-me adotá-lo. Maria agradeceu-me e a Malu, tentando colocá-lo nos braços. Entramos com Tiago, este o nome que lhe benzi e chamei-o.
Convivendo com Tobias, nosso cachorro adolescente e educado pensador, Tiago e ele se entrosaram. Mas o Neguim, gato preto e branco, que para ele só há dois caminhos: Sim! Não!, preferiu até hoje o caminho do não. Cada aproximação, desunião.
Abri os olhos na cama, e Tiago me reclamava a hora do petisco deles, isto é, três biscoitinhos para cada um. Tobias já aguardava, debaixo da mesa da cozinha e de pernas cruzadas, o instante da merenda.
Tiago amado, que maravilha da Criação divina a regalar-nos (eu, Malu, Tobias e Neguim e a Priscila, a funcionária) com esse presente inesperado.            
JN. Dantas de Sousa

Texto literário de Dantas de Sousa - conto

Texto literário de Dantas de Sousa - crônica

Texto literário de Dantas de Sousa - poema

Literatura do Folclore: Conto

Literatura do Folclore: Ditado e Provérbio

Literatura do Folclore: Qual o cúmulo de...