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Literatura do Folclore: O mendigo e o rei - conto

Numa cidade, morava um rei num palácio muito grande. Nessa mesma cidade morava um velho muito pobre. O pobre morava numa casinha de barro de um só cômodo, quase caindo, e vivia das poucas esmolas que pedia. O coitadinho passava até fome.

Um dia, fizeram um grande roubo no palácio. Conseguiram abrir o cofre do rei e levaram todo o tesouro. Daí o rei ficou desatinado e urrava feito um leão. Aquilo deixou todo mundo desnorteado.

Depois que o rei se acalmou, ele mandou publicar no jornal que daria uma boa recompensa, em dinheiro, para quem lhe dissesse a pessoa que tinha roubado o seu tesouro. Mas ninguém se apresentou. Então, uma pessoa que não gostava do velho mandou avisar ao rei que o velho mendigo sabia quem era o ladrão. E imediatamente o rei mandou ir buscar o velho. Ao trazerem o velho, puseram-no num quarto do palácio. Em seguida, o rei lhe falou sério:

- Você, meu amigo, tem três dias para me dizer o nome do ladrão que levou meu tesouro. Se dentro de três dias você não me disser, vai morrer enforcado.

O pobre velhinho, diante daquela triste situação, valeu-se de Deus:

- Ó meu Pai Eterno, me socorra. Vim duma casa tão pobre para morrer num palácio tão rico. E não tem jeito de escapar dessa, porque não sei quem é o ladrão.

E o coitado do velho começou a rezar sem parar. Depois de um certo tempo, o rei falou para os seus criados:

- Vocês tratem bem aquele velho. Deem-lhe todos os dias a melhor comida que tiver aqui, e que seja a mesma que vai na mesa para mim.

Então um criado foi no quarto, onde estava o velho, e falou para ele:

- O rei mandou tratar bem você. Mandou trazer para você, todo dia, a melhor comida.

O velhinho então falou para o criado:

- Eu não estou acostumado a comer mais do que uma vez por dia. Mas, se não for incômodo, me traga a comida quando der meio-dia. É só uma vez por dia.

Logo que o criado saiu do quarto, o velho voltou a rezar assim:

- Pai Nosso que estais no céu... E depois pensou: "Ai, meu Deus, faça esses três dias passarem depressa. É duro ficar esperando a hora de ser enforcado".

Quando foi meio-dia, um criado levou uma bandeja grande com peru, leitão, batata. E outra com melancia, abacaxi e outras coisas. O velho comeu com muita vontade. Depois que comeu tudo, falou para o criado que foi a melhor comida que ele já tinha comido. Então o criado pegou as bandejas para levá-las para a cozinha. E o velho disse para o criado com voz bem firme:

- Louvado seja Deus. Esse é o primeiro dos três dias que estou vendo passar.

Assim o velho queria se referir ao primeiro dos três dias de amargura, de sofrimento. Mas o criado ficou assustado. Então, chamou os outros dois companheiros e lhes disse:

- Esse velho sabe mesmo quem roubou o tesouro. Ele falou, agradecendo a Deus, que o primeiro ele já tinha visto. Ele é mesmo um adivinhador.

No segundo dia, para tirar a prova, foi outro criado, que participou do roubo, levar a comida. O mendigo comeu, comeu, comeu, até enjoar.

Quando o criado retirou as vasilhas para levá-las para a cozinha, o velho lhe agradeceu:

- Louvado seja Deus! Esse é o segundo dos três que está passando.

E o criado saiu apressado para a cozinha. Estava tão nervoso que nem podia falar. Mas conseguiu chamar os dois companheiros e lhes disse:

- Nós estamos perdidos, companheiros. O velho sabe mesmo que somos nós. O que devemos fazer?

No terceiro dia, foi levar a comida para o velho o terceiro dos ladrões. O velho quis comer tudo o que tinha nas bandejas, porque era a última vez que ele iria comer na vida. E deixou as bandejas limpinhas. Ao entregar as bandejas ao criado, falou para ele:

 - Louvado seja Deus. Este é o terceiro e o último que eu vejo passando.

De tão nervoso, o criado não aguentou o que ouvira. Caiu de joelhos nos pés do velho e lhe disse:

- Já que o senhor sabe que fomos nós três os ladrões do tesouro, nós pedimos, pelo amor de Deus, que o senhor não fale isso para o rei. Nós vamos devolver o tesouro para o senhor entregar para o rei. Mas o senhor tem que jurar que não vai contar isso para ele.

O velho, que já se sentia aliviado, porque não ia morrer enforcado, jurou que não iria falar o nome deles para o rei. Mas lhe fez um pedido:

- Vocês peguem o tesouro e, com muito cuidado, sem que ninguém veja, enterre debaixo daquele pé de cedro que tem perto do riozinho, lá na ponte do Tatu.
Desconfiado, o criado se adiantou:

- É pra já. Nós vamos fazer como o senhor está pedindo, mas o senhor não fale para o rei que fomos nós.

Depois disso, o terceiro criado combinou com um deles para fazer o serviço. E quando bateu seis horas da tarde, o rei falou pra um dos criados:

- Deixe a forca no jeito. Se ele não adivinhar, já fica tudo pronto para enforcá-lo.

Logo depois, o rei deu ordem para outro criado ir chama o velho. E trouxeram o velho diante do rei. Ele estava muito calmo. No grande salão disse ao rei:

- Majestade, eu não vou conseguir adivinhar o nome do ladrão. Mas sou capaz de dizer ao meu rei onde ele enterrou o seu tesouro. O tesouro, majestade, ele escondeu num buraco que ele fez debaixo daquele pé de cedro que tem lá na ponte do Rio Tatu. Pode mandar alguém lá para ver.

Então o rei mandou dois criados até lá, com enxada e enxadão. E não demorou quase nada. Eles voltarem trazendo o rico tesouro do rei.

O rei ficou tão agradecido que deu uma boa quantia de dinheiro para o velho. E ele ficou muito rico. Comprou uma boa casa e viveu feliz para o resto da vida. Assim, os três criados nunca mais pensaram em roubar o rei.

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